Detalhe da batalha da Ilha de Serigipe, Rio de Janeiro, 1560

(THEVET, André. "La Cosmographie Universelle" - Paris, 1575)

QUASE QUE A GENTE VIRA FRANCÊS

A batalha de Mem de Sá contra os franceses na Baía de Guanabara, em 1560, é o que retrata este mapa-reportagem de autoria Abdré Thevet, datado de 1567. É um documento precioso por mostrar o Rio de Janeiro sob a ocupação de Villegaignon durante seu projeto de estabelecer a França Antártica. 

Os detalhes são melhor observados na imagem ampliada. Repare na Henryville, a ex-futura cidade que homenagearia Henrique II, Rei da França; na foz do Rio Carioca, à esquerda, na Ilha dos Maragaiatz (atual Governador) ao fundo, e Isle Rattier (Laje) em primeiro plano. 

Veja também o Le Lac (O Lago), no sopé do Pão de Açúcar - um bolsão de água salgada, que aparecia em ocasiões de maré muito baixa no canal assoreado entre o continente e a Ilha da Trindade (morros de Pão de Açúcar, Cara de Cão e Urca). Em dias de ressaca ou grandes marés, o mar ultrapassava os limites da Praia Vermelha, na época apenas um pequeno istmo de areia, e adentrava pela enseada de Botafogo diretamente, abastecendo o lago salgado. 

1555 - Uma expedição comandada pelo vice-almirante Nicolas Durand de Villegaignon chegou à Baía da Guanabara e implantou uma colônia que ficou conhecida como França Antártica. Inicialmente, aportaram na ilha Rattier (hoje Ilha/Forte da Laje) onde fizeram o primeiro culto protestante do Brasil e possivelmente do Novo Mundo. A alta da maré os expulsou da ilhota e eles foram para a Ilha de Serigipe (atual Villegaignon), onde construíram o Forte Coligny. 

1558 - Villegaigon abandona a expedição e retorna para a França, desiludido com o fracasso do projeto, causado pela indisciplina dos colonos, sua insistência em se "miscigenarem" com a índias no litoral e pelas brigas entre os católicos e os protestantes calvinistas da expedição. Condenou à morte e executou vários colonos, expulsou os calvinistas para o litoral, mas eles se adaptaram e passaram a evangelizar os índios tupinambás, caracterizando o primeiro contato missionário protestante com um povo não-europeu. 

1560 - A 15 de março, com a chegada de reforços de São Vicente, o ataque dos portugueses comandados por Mem de Sá foi iniciado (mapa), com artilharia e ancoragem na Ilha. Dois dias mais tarde os franceses foram obrigados a fugir em companhia dos índios tamoios. A fortaleza foi posta por terra e no dia 17 de março foi celebrada a primeira missa católica na Ilha. A vitória de Mem de Sá foi muito facilitada pelas informações sobre o forte fornecidas pelos franceses dissidentes Jean de Cointra e Jacques Le Balleur, que haviam sido desterrados por Villegaigon. 

Política e ideologicamente, o empreendimento francês foi obviamente um fracasso, não tendo sido adequadamente concebido. Todavia, o experimento, apesar do seu trágico desfecho, é muito valorizado na história do protestantismo, em virtude do seu caráter pioneiro. 

Em 24 de Junho, Mem de Sá volta para a Cidade de Salvador. Os franceses sobreviventes fugiram para o litoral, onde foram acolhidos pelos tamoios. Sete anos mais tarde, estavam reorganizados e foi a vez de Estácio de Sá expulsá-los definitivamente do Rio de Janeiro, episódio em que perdeu a vida por infecção ou envenenamento causado por um ferimento de flecha no rosto. Mas isso já é outra história e outro mapa...

Celso Serqueira e-mail do autor

  > fechar <

www.serqueira.com.br

© Copyleft 2005 CMS