CERVEJA COM CAFÉ, GUARANÁ COM VINHO
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Na parte anterior, vimos como Luiz Pereira Barretto desenvolveu a espécie Bourbon de café,
hoje reconhecida como a melhor do mundo, e tornou Ribeirão Preto o maior centro cafeicultor do planeta. E não ficou somente nisso.
Vinho brasileiro
Em 1885, Pereira Barretto abandonou a lavoura cafeeira, tornando-se viticultor, pois achava que éramos capazes de
produzir não só café e borracha, mas poderíamos fazer vinho de boa qualidade, única forma de atrair o colono europeu em emigração
voluntária.
Dispôs-se a cultivar a "Vitis vinifera" em Pirituba, nos arredores de São Paulo, numa verdadeira estação experimental
agrícola, onde chegou a reunir mais de 400 variedades de uvas vindas da França, Portugal, Itália, Egito, Síria, etc. No entanto, apenas a uva nascia e
crescia, era vítima de doenças produzidas por fungos.
Apoiando-se na "novíssima" doutrina microbiana de Pasteur, estudou o problema,
correspondeu-se com os mestres da viticultura européia e após vários anos de trabalho desenvolveu técnicas para o cultivo eficiente de qualquer casta
vinícola em terras tropicais. Por conta de seu conhecimento, Pereira Barretto escreveu durante 12 anos na imprensa européia, em especial na francesa,
dando lições e consultorias aos viticultores europeus. Um brasileiro ensinando franceses a cultivar uvas!
Como grande cientista que era,
Barretto participou da grande campanha contra a febre amarela. Mais uma vez, deu uma importante contribuição para a ciência causando polêmica quando
afirmou que a doença não era contagiosa e sim um problema de saúde pública devido à contaminação das águas. Logo depois, em Havana, foi descoberto o
transmissor da doença, o mosquito "stegomya", hoje conhecido como "aedes aegypti".
Antarctica: salsicha que virou
cerveja
Pereira Barretto foi também o introdutor da cerveja no Brasil. Em 1885, foi organizada em São Paulo a Cia.Antarctica com a
finalidade de produzir presuntos, mortadelas e salsichas. Mas o investimento fracassou, pois logo após a construção da enorme fábrica, a matéria-prima
(carne suína) começou a escassear, devido à preferência dos produtores rurais em plantar café a criar porcos. Restava à Antarctica fechar as
portas.
No dia da assembléia geral que oficializaria o fim da empresa, Pereira Barretto fez uma explanação da viabilidade de se
transformar as instalações - principalmente os equipamentos de fabricação de gelo - em uma fábrica de cerveja. Até então ninguém acreditava na
possibilidade de se fazer cerveja no Brasil, pois o nosso clima parecia um obstáculo insuperável.
A grande indústria constituiu-se, os
acionistas se enriqueceram, a empresa tornou-se milionária e a cerveja pioneira da Antarctica espalhou-se por todo o país, cessando a importação e
proporcionando a nossa emancipação no setor da bebida.
Guaraná faz bem
Como se não bastasse, o nosso cientista foi o
descobridor dos benefícios que o guaraná traz ao ser humano e o pioneiro no estudo para produzir uma bebida refrigerante industrializável com base no
fruto. Criou o método de processamento que deu origem ao xarope utilizado até hoje na fabricação do refrigerante.
É uma árdua tarefa
sintetizar a vida de Luiz Pereira Barretto, pois ele cuidou de tudo, ou quase tudo: medicina, filosofia, educação, imprensa, cafeicultura, pecuária,
sociologia, viticultura, política, geologia e muito mais. Praticamente esquecido pela história oficial (quem aprendeu sobre ele na escola?), foi acima
de tudo um sábio e um humanista.
Fonte: estudo de José Eduardo de Oliveira Bruno, Academia Itatiaiense de História
Celso Serqueira |
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