Mappa Geral da Republica dos Estados Unidos do Brasil, Companhia

 Lithographica Hartmann-Reichenbach, 1908

CERVEJA COM CAFÉ, GUARANÁ COM VINHO [2]

Na parte anterior, vimos como Luiz Pereira Barretto desenvolveu a espécie Bourbon de café, hoje reconhecida como a melhor do mundo, e tornou Ribeirão Preto o maior centro cafeicultor do planeta. E não ficou somente nisso. 

Vinho brasileiro

Em 1885, Pereira Barretto abandonou a lavoura cafeeira, tornando-se viticultor, pois achava que éramos capazes de produzir não só café e borracha, mas poderíamos fazer vinho de boa qualidade, única forma de atrair o colono europeu em emigração voluntária. 

Dispôs-se a cultivar a "Vitis vinifera" em Pirituba, nos arredores de São Paulo, numa verdadeira estação experimental agrícola, onde chegou a reunir mais de 400 variedades de uvas vindas da França, Portugal, Itália, Egito, Síria, etc. No entanto, apenas a uva nascia e crescia, era vítima de doenças produzidas por fungos. 

Apoiando-se na "novíssima" doutrina microbiana de Pasteur, estudou o problema, correspondeu-se com os mestres da viticultura européia e após vários anos de trabalho desenvolveu técnicas para o cultivo eficiente de qualquer casta vinícola em terras tropicais. Por conta de seu conhecimento, Pereira Barretto escreveu durante 12 anos na imprensa européia, em especial na francesa, dando lições e consultorias aos viticultores europeus. Um brasileiro ensinando franceses a cultivar uvas! 

Como grande cientista que era, Barretto participou da grande campanha contra a febre amarela. Mais uma vez, deu uma importante contribuição para a ciência causando polêmica quando afirmou que a doença não era contagiosa e sim um problema de saúde pública devido à contaminação das águas. Logo depois, em Havana, foi descoberto o transmissor da doença, o mosquito "stegomya", hoje conhecido como "aedes aegypti". 

Antarctica: salsicha que virou cerveja

Pereira Barretto foi também o introdutor da cerveja no Brasil. Em 1885, foi organizada em São Paulo a Cia.Antarctica com a finalidade de produzir presuntos, mortadelas e salsichas. Mas o investimento fracassou, pois logo após a construção da enorme fábrica, a matéria-prima (carne suína) começou a escassear, devido à preferência dos produtores rurais em plantar café a criar porcos. Restava à Antarctica fechar as portas. 

No dia da assembléia geral que oficializaria o fim da empresa, Pereira Barretto fez uma explanação da viabilidade de se transformar as instalações - principalmente os equipamentos de fabricação de gelo - em uma fábrica de cerveja. Até então ninguém acreditava na possibilidade de se fazer cerveja no Brasil, pois o nosso clima parecia um obstáculo insuperável. 

A grande indústria constituiu-se, os acionistas se enriqueceram, a empresa tornou-se milionária e a cerveja pioneira da Antarctica espalhou-se por todo o país, cessando a importação e proporcionando a nossa emancipação no setor da bebida. 

Guaraná faz bem

Como se não bastasse, o nosso cientista foi o descobridor dos benefícios que o guaraná traz ao ser humano e o pioneiro no estudo para produzir uma bebida refrigerante industrializável com base no fruto. Criou o método de processamento que deu origem ao xarope utilizado até hoje na fabricação do refrigerante. 

É uma árdua tarefa sintetizar a vida de Luiz Pereira Barretto, pois ele cuidou de tudo, ou quase tudo: medicina, filosofia, educação, imprensa, cafeicultura, pecuária, sociologia, viticultura, política, geologia e muito mais. Praticamente esquecido pela história oficial (quem aprendeu sobre ele na escola?), foi acima de tudo um sábio e um humanista. 

Fonte: estudo de José Eduardo de Oliveira Bruno, Academia Itatiaiense de História

Celso Serqueira e-mail do autor

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