A HISTÓRIA SUBMERSA DA REPRESA DE
LAJES Criada em 1733, São João Marcos atingiu o
auge da prosperidade no século seguinte, com a expansão da cultura cafeeira fluminense. O padrão de vida elevado e os recursos investidos em educação,
cultura e bem-estar justificavam a adoção do termo "barão" para designar os refinados latifundiários fluminenses, em oposição aos "coronéis", como
eram chamados os fazendeiros do resto do País (poderosos porém truculentos, sem polimento social).
Parte 2 - O começo do fim Em 1854, Irineu Evangelista de Souza inaugurou a primeira ferrovia do Brasil, ligando Mauá a Raiz da Serra, no fundo da Baía de
Guanabara. A proliferação dos trens causou a decadência de muitas vilas e povoados, já que a preferência geral passou para o transporte ferroviário,
mais rápido e seguro que os lombos de burro, pequenas embarcações e carroças antes utilizadas. São João Marcos não ficou imune à queda no movimento de
tropeiros pelo caminho velho (que vinha de São Paulo) e acusou uma grave perda no comércio.
Mas o infortúnio não costuma andar desacompanhado:
além de vir apresentando queda de rendimento em decorrência do esgotamento das terras, a produção cafeeira fluminense sofreu outro golpe em 1889, com
a abolição da escravidão. Os fazendeiros não conseguiram suprir a necessidade de grandes contingentes humanos para trabalhar nas plantações e a
produção caiu a níveis desastrosos. Enquanto isso, os agricultores do Oeste Paulista, com lavouras mais recentes e contando com lavradores
assalariados, meeiros e imigrantes, assumiram a liderança do mercado rapidamente.
A situação estava péssima para a cidade. Com a decadência da
cultura cafeeira fluminense e o desenvolvimento dos novos meios de transporte, São João Marcos foi perdendo importância e sua população ficou reduzida
a pouco mais de 7 mil pessoas no início do século 20.
Resistindo bravamente à decadência, a população e autoridades de São João Marcos
tentaram se adaptar aos novos tempos e apoiaram o que seria a grande esperança de recuperação da economia local: a construção da Estrada de Ferro
entre Barra Mansa e Angra dos Reis. Realmente, a ferrovia trouxe de volta o antigo ar de prosperidade e novas possibilidades começavam a ser
desenhadas para o futuro de São João Marcos.
Enquanto isso, a menos de 100 quilômetros dali, a cidade do Rio de Janeiro, então Distrito
Federal, se desenvolvia aceleradamente, o mesmo acontecendo com os municípios vizinhos. Era o ano de 1907, a população aumentava e a ordem era
transformar a capital numa metrópole moderna, orgulho da república. A grande questão era onde conseguir as fontes dos recursos exigidos pelo
progresso, como energia elétrica e água potável encanada, por exemplo.
A solução já estava em mãos dos engenheiros da Light (cia. de
eletricidade do Rio), que havia dois anos estudavam as possibilidades para suprir a crescente demanda. E a melhor opção, segundo eles, era criar uma
represa e uma hidrelétrica no Ribeirão das Lajes, no alto da Serra das Araras. Só tinha um probleminha: 97 grandes fazendas iriam ficar debaixo
d'água. Justamente as maiores propriedades da área rural de São João Marcos.
(continua...)
Celso Serqueira | |
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