Detalhe de "Plan de la baye et de la ville de Rio Janeiro", autor Duguay-Trouin, ano 1740

O HORROR! O HORROR! 

(parte 1 de 2)

Este magnífico mapa conta a história da invasão de René Duguay-Trouin em 1711 ao Rio de Janeiro e foi desenhado e escrito pelo próprio corsário francês. Vale a pena acessar a imagem ampliada para ler as legendas, conhecer os detalhes das batalhas e ver como era a cidade naquela época.

Uma espessa neblina pairava sobre o Rio de Janeiro naquela tranqüila manhã de setembro. No mar, as embarcações se mantinham ancoradas esperando a bruma passar. Um ou outro barqueiro mais afoito içava tochas nos mastros e arriscava-se a navegar. A sentinela do Forte de Santa Cruz olhava sonolenta para a direção do Pão de Açúcar e via apenas uma enorme e úmida nuvem branca. Eram quase 10 horas quando o calor do sol fez a névoa se dissipar lentamente. O soldado apertou os olhos para enxergar melhor ao longe e não acreditou no que viu.

- ALERTA! OS FRANCESES ESTÃO A INVADIR! ÀS ARMAS! - ele gritou, desesperado.

Mas era tarde. Aproveitando a invisibilidade proporcionada pela bruma, o corsário francês René Duguay-Trouin, com uma esquadra de 18 navios, 6 mil homens e 700 canhões entrou silenciosamente na Baía de Guanabara e já estava perto da Ilha de Villegagnon. E nem precisou forçar a barra. Começa aqui a história mais trágica já ocorrida com os cariocas - dois meses de saques, vandalismo, assassinatos, estupros, incêndios e destruição da cidade. Quem pôde, fugiu. O caos, o apocalipse, o horror.

Vimos outro dia que Jean-François Duclerc tentou invadir o Rio em 1710, com cinco navios e mil homens, mas fracassou, terminando preso e assassinado misteriosamente. Sob a desculpa de vingar a morte do conterrâneo e concluir sua missão - saquear o ouro de Minas que era embarcado para Portugal pelo Porto do Rio - , no ano seguinte aportou na cidade René Duguay-Trouin, um dos mais audazes personagens de seu tempo. 

Na verdade, as motivações de Duguay-Trouin eram mais amplas que as do corsário que o antecedeu. Ele pretendia deslocar da Europa o eixo da Guerra de Sucessão Espanhola, já que atacar o Rio, na época a mais florescente colônia portuguesa, era atacar Portugal, eterno aliado dos ingleses e parte da coalizão européia que estava em guerra contra a França.

Como na vez passada, espiões portugueses na Europa avisaram ao governador do Rio de Janeiro, Francisco Morais e Castro, que uma esquadra estava para atacar a cidade. Todas as defesas foram preparadas, mas, três dias antes de os franceses aportarem, chegou uma contra-informação que dava a notícia da invasão como falsa. Por isso, Francisco Morais mandou desmontar todo o esquema de resistência, segundo ele desnecessário e dispendioso. Foram desguarnecidas as fortalezas de Santa Cruz e São João. A cidade estava vulnerável outra vez.

(continua...)

Celso Serqueira e-mail do autor

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