O RIO E A TEORIA DA EVOLUÇÃO... ECLESIÁSTICA

Em 1832, chegava ao Brasil o navio inglês Beagle, trazendo a bordo o naturalista Charles Darwin, em viagem pela costa da América do Sul. Se nas Ilhas Galápagos Darwin encontrou a exótica fauna que o inspirou na elaboração da Teoria da Evolução das Espécies, no Rio de Janeiro o que o impressionou foram a quantidade, a ostentação e a riqueza das igrejas.

O cientista tivera seu primeiro e deslumbrante contato com a floresta tropical na Bahia, poucos dias antes, e ficou igualmente entusiasmado com a diversidade natural do Rio de Janeiro, onde ficou por dois meses numa chácara em Botafogo. Darwin chegou a promover uma expedição de estudos ao Rio Macaé, mas quase nada registrou sobre os aspectos urbanos da cidade.  Seu assistente, entretanto, anotou todas as etapas da missão num volume que ficou conhecido como "O Jornal de Syms Covington", e consta nele o seguinte relato (resumido):

"Com tempo moderado e uma passagem agradável, chegamos ao Rio de Janeiro em 4 de abril. A vista mais aprazível desta cidade é do porto, onde 'sua elevada eminência' coroou de conventos os montes das redondezas e espalhou vilas e jardins de aparência rica e magnífica. O palácio real está cercado por sessenta jardas de jardins. Este palácio, embora pequeno, é a residência do príncipe regente e a família real. Uma idéia da extensão da cidade pode ser dada pelo tamanho da população que, incluindo os negros, sua parcela mais numerosa, é estimada em 130.000 almas. 

"Na cidade, as moradias estão nos terrenos mais elevados. Os numerosos conventos e igrejas aparentemente são bem construídos e, como a maioria das igrejas católicas romanas, excessivamente ricos em seu interior; parecem mais palácios de fantasia do que templos para a adoração divina.

"Existem várias lagoas da água estagnada que não podem ser drenadas sem muito trabalho e, com o tempo quente, freqüentemente exalam emanações pútridas. A água para uso da cidade vem dos morros próximos através de aquedutos e é distribuída por diversas fontes em vários lugares públicos. O mercado é bem fornecido com o tudo que um país abundante pode produzir.

"O porto do Rio de Janeiro é famoso por ser um dos mais seguros do mundo. As baterias, que são muito numerosas, estão parcialmente em ruínas. O porto é fácil de entrar e fazê-lo é sempre apreciável, porque há uma mudança diária da brisa da terra e do mar, do alvorecer até o meio-dia e do último dessa hora até que o sol se ajuste."

 

Celso Serqueira