NOSSA HISTÓRIA ESFARRAPADA Veremos hoje uma das maiores fraudes de nossos livros de história, um exemplo claro de informação "chutada" e de como
instituições com rigor científico e apreço pela pesquisa, como o IBGE, podem se deixar enrolar.
Certamente você aprendeu na
escola sobre a vinda da família real portuguesa para o Brasil, fugindo do exército de Napoleão que invadiu Portugal. Os livros dizem que foram 15 mil
pessoas, número que aparece até no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Mas será que foi mesmo isso tudo? Ora, 15
mil pessoas, em 1808, correspondiam a 25% da população urbana do Rio de Janeiro e a 8%
da de Lisboa. Onde esse pessoal todo foi
acomodado, repentinamente, na cidade? E quantas embarcações foram necessárias para trazer tanta gente? Alguém pensou nisso?
Teve um que
parou para pensar, sim. Foi o pesquisador e professor Nireu Cavalcanti, autor do livro "O Rio de Janeiro Setecentista", que esclareceu esta
história. Lógico que ele não foi ao IBGE, mas recorreu aos arquivos do movimento do Porto do Rio de Janeiro e às listas de passageiros dos navios que
chegaram naquela época.
O QUE FOI DESCOBERTO
* Como a capacidade dos navios mercantis e de passageiros, na época, era de 80 pessoas em
média, seria necessária uma portentosa frota de 187 embarcações (que obviamente não existiu) para trazer os 15 mil portugueses;
* Nos anos
de 1808 e 1809, segundo a Alfândega do Rio, aportaram na cidade menos de 30 embarcações trazendo a família real e seus acompanhantes;
* Somando as listas de passageiros dessas
embarcações, tem-se o total de 420 pessoas, sendo 60 delas da família real (veja lista minuciosa pesquisada pelo Prof. Nireu Cavalcanti);
Um erro de quase 14.500 pessoas ou 97,5% - deve ser um
recorde no IBGE. O mais grave é que embora os números corretos tenham sido divulgados pelo prof. Nireu Cavalcanti em 2004, ainda
não se modificou nenhuma linha dos livros e nem do site do governo brasileiro.
Como a maior parte das revisões de nossa história, esta
também tende a ser sepultada pela versão errada. Mudar livros e cabeças dá muito trabalho e despesa, quase tanto quanto pesquisar e pensar. E 15.000,
afinal, é muito mais glamouroso que 420.
Celso Serqueira | |
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