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Índias amazonas executam dois homens para serem assados, provavelmente séc XVI 

CANIBALISMO, ASPECTO MACABRO DA HISTÓRIA 

Parte 1 de 5

Dentre vários itens interessantes nos mapas antigos, dois tipos de ilustração sempre chamam a atenção: os monstros com que os cartógrafos povoavam os oceanos e os canibais nas terras brasileiras. Começamos aqui uma série de cinco artigos com gravuras de canibalismo e sacrifício humano extraídas de mapas e livros antigos; dos monstros, trataremos mais adiante. 

Arrebentar o crânio do seu semelhante, assá-lo e devorá-lo sempre foi próprio do elemento humano. O canibalismo não foi uma perversão moral dos selvagens nem costume de algumas raças, mas uma prática inerente ao homem em todas as latitudes do Globo. Basicamente, sempre houve duas razões para a antropofagia: a alimentação e o ritual (religioso ou social). Em quase todo o mundo, praticou-se o canibalismo tanto gastronômico como ritual, porém, nos séculos mais recentes, predominou a motivação epicurista - os povos canibais achavam a carne humana deliciosa!

Desde tempos remotos, os sacrifícios humanos passaram a incorporar a antropofagia ritual. Ao matar uma pessoa de forma violenta, os antigos acreditavam que se produzia uma liberação de poderosa energia que poderia ser manipulada para diversos fins por pessoas especiais: sacerdotes, reis, mestres. Para obter o máximo proveito dessa "força", era preciso derramar sangue na boca dos ídolos (esculturas) e comer certas partes dos corpos das vítimas, como o coração, a cabeça e os músculos. Era crença que somente reis e sacerdotes podiam consumir o sangue, porque a sua enorme potência causaria loucura em pessoas despreparadas.

Eventualmente, a distribuição dos pedaços do corpo podia seguir uma certa ordem: em alguns povos, o cadáver era repartido em tantas partes quantos os guerreiros que haviam participado da captura, respeitado o limite de seis, para que todos ficassem saciados. Os músculos e os braços eram muito apreciados, assim como os pés, que consta serem uma das partes mais saborosas do homem. Na Nova Zelândia, ao sacerdote cabia comer também o coração, mas na África este órgão era petisco destinado somente aos chefes tribais. No Senegal, os sacerdotes preferiam comer o fígado (literalmente). De forma geral, os reis e sacerdotes tinham a conveniente e gastronômica crença de que comer o coração do guerreiro mais valente capturado lhes transmitiria a sua valentia.

A preparação da carne variava conforme a vítima. Os mexicanos gostavam de cozinhar os despojos com milho e sal, mas sem usar a popular pimenta. Já os prisioneiros e as crianças devoradas em honra a Tlaloque (divindade relacionada à água) eram cozidos com talos de abóbora e flores, após serem engordados durante semanas para que o festim fosse mais satisfatório ao paladar. Há registros indicando que a carne humana tinha o sabor semelhante à do porco. Nas sociedades bastante primitivas, a carne era repartida entre todos e não havia qualquer ritual. Quanto maior o nível cultural dos povos, mais rigorosa era a hierarquização da partilha - afinal, somente os "eleitos" podiam desfrutar do poder transmitido pelo canibalismo.

(continua...)                      


Celso Serqueira  e-mail do autor