O DIA EM QUE A CALCINHA FOI BANDEIRA DO BRASIL A gravura acima é uma ilustração cartográfica com destaque para Botafogo, baseada no mapa "General
Chart of the Coasts of Brasil", de Laurie, Purdy e Findlay, publicado em Londres, em 1853. Era nessa região que morava Gertrudes e trabalhava Ewald,
pivôs da história de hoje.
Após extensas negociações diplomáticas, em 1825 D. Pedro I obteve o reconhecimento de nossa
independência pela Inglaterra e Portugal. O fato daria uma importância extraordinária ao desfile cívico daquele ano, no Campo de Santana, a ser aberto
pela tropa dos temidos mercenários alemães.
Aqui cabe explicar: as nossas forças militares eram formadas por portugueses e, após a nossa
independência, o Imperador não podia mais confiar neles. Daí contratou centenas de mercenários alemães que estavam desempregados com o fim das guerras
napoleônicas. Eles foram instalados no quartel do Campo de Santana e na velha fortaleza da Praia Vermelha (veja 'Fta. da Vermelha', no mapa
acima).
Além de truculentos, esses soldados era insubordinados e bagunceiros, dando mais prejuízo que segurança ao País. O mais
esculhambado deles era justamente o comandante do quartel da Praia Vermelha, Major Von Ewald. Amigo pessoal de D. Pedro I, era seu cúmplice nas
esbórnias noturnas que promoviam nas tavernas da cidade. Alcoólatra e falastrão, Von Ewald se apaixonara por uma famosa e rica prostituta - Gertrudes
- que morava numa luxuosa chácara na Praia de Botafogo.
De início, Gertrudes delicadamente o repeliu e então Ewald resolveu demonstrar seu
poder e autoridade: passou a organizar desfiles das tropas alemães diante da casa dela. Seduzida por tal devoção, a prostituta cedeu aos desejos do
Major - certos autores identificam aí a origem da expressão "topou a parada", que passou a ser usada primeiramente em tom de galhofa e depois se
integrou ao nosso vocabulário popular. Mas para se tornar amante regular de Ewald, a rameira exigiu uma outra prova de amor...
No dia do
desfile da Independência, todas as autoridades e milhares de pessoas assistiam à tropa dos alemães entrar garbosa no Campo de Santana, trajando seu
uniforme de gala, quando ocorreu a estupefação geral. No lugar do pavilhão nacional, a bandeira do Brasil ostentada pelo batalhão, pendia um apetrecho
nada cívico: as cintas-ligas de Gertrudes, ali colocadas por Von Ewald como prova de amor a sua exigente meretriz.
Após o desfile, D. Pedro I
mandou prender Von Ewald, rebaixou-o de posto e o sentenciou a uma surra de vara (costume da época). O alemão chegou a fugir, mas logo foi
recapturado. Poucos dias depois, o imperador o perdoou e tudo voltou a ser como antes, inclusive as bacanais e porres da dupla. E não podemos esquecer
que o imperador mantinha com dinheiro público duas amantes: a Marquesa de Santos e sua irmã, a Baronesa de Sorocaba. Não seria ele quem iria querer
moralizar coisíssima nenhuma.
Nota
1) Naquela época o desfile cívico de comemoração da Independência não era realizado em 7 de
setembro, mas em 12 de outubro - data da Aclamação do Imperador
Celso Serqueira
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